Ariana. Um comentário. Para Patrick, com carinho.

Sempre quis entender a mania dos jornalistas, da mídia, de rotular, de segmentar, de dar título, de compartimentar a música. Nos primeiros instantes da criação, a próxima pergunta pode ser: o que estou criando? Que tipo de nome, de gênero que eu dou a isso?

Preocupando-se ou não com isso, o artista ou produtor ou ambos, sabem que terão que passar os próximos 3 anos de suas vidas respondendo a esta mesma pergunta, que ritmo? Que conceito? Que tipo de música está sendo feita?

Ao enquadrar sua criação, o artista é obrigado a deixar de lado tanta coisa a mais, tanta referência, tanta inspiração. Ao enquadrar, o resultado é um recorte miúdo de um ambiente infinitamente superior, mais complexo.

Sinto-me à vontade para falar sobre isso, desde que comecei há vários anos a acompanhar de perto a carreira de Siba. Acompanhar atentamente os processos dele como compositor, arranjador, instrumentista , percebendo a grandeza de tudo, as diferentes vias de acesso à criação, as múltiplas formas de inspiração para compor, o imenso caminho até o término de uma canção. Ao perceber tudo isso, me parece um desperdício ou, às vezes, uma precipitação, nos forçar a dizer, em uma ou duas palavras, o que danado é isso tudo.

Isso vem a maioria das vezes da mídia tradicional, toda rápida, toda urgente, toda imediata, condensada no tamanho do texto que a ausência do anúncio comercial permitiu ou na dependência da hora do início da novela. Sinto até um certo sentimento de pesar pelos colegas jornalistas que gostariam de ir mais além e não podem. Mas, quando isso parte de um ambiente mais livre, mais independente, aí fico achando que é uma mania mesmo.

Fui movida a escrever este post, depois de ler no facebook, uma sentença interessante. Depois que postamos um teaser de 4 minutos de uma música do novo disco de Siba, Ariana, li um comentário que dizia que o disco fazia parte de uma era pós – brega. Li aquilo que foi escrito por Patrick Tor4, meu querido amigo, uma pessoa que adoro muito, li e passei direto. Mas, depois, provocada, li de novo, e aí fiquei pensando. Patrick escreveu o que ele sentiu ao ver o teaser, ele fez uma análise pessoal sobre o que sentiu na música e, por ser um cara muito ligado ao ambiente do tecnobrega, enquadrou então o novo disco de Siba numa era criada por ele, fofa inclusive, chamada de pós-brega, onde outros artistas também estariam, Lirinha, Cidadão Instigado, entre outros.

Na verdade, não tenho nada contra o que Patrick escreveu e nem acho ruim ele ter sentido isso da música. Mas, isso me fez pensar sobre essa necessidade do rótulo, de criar compartimentos, de segmentar, de reduzir algo que, na minha opinião, está tão além.

A intrigante urgência para se definir algo que nem foi lançado ainda, que nem foi ouvido ainda. Patrick viu apenas um teaser de uma música, não tem nem ela completa, não é um clipe. De um disco inteiro, ele teve acesso a apenas uma canção e o disco entrou na lista de uma nova era. Para o meu queridão Patrick que me provocou sem saber, e para todos os outros que tem interesse em conhecer o disco Avante, de Siba, eu diria que tentar enquadrá-lo em qualquer ritmo, movimento, mundo, segmento, vai dar um trabalho do cão. Mas, se alguém chegar a alguma conclusão, por favor, nos diga, quem sabe não nos ajuda a responder à mesma pergunta pelos próximos 3 anos de nossas vidas.

Assista ao Teaser Ariana:

SIBA – Ariana from DobleChapa on Vimeo.

Um comentário sobre “Ariana. Um comentário. Para Patrick, com carinho.”

  1. Melina adorei o texto, e mesmo independente de vc colocar o “Carinho” no titulo sinto isso nele.
    coloquei uma impressão de uma música, num post de 4 ou 5 linhas, posso ter me equivocado de no juntar daquelas palavras me referir a obra por 1/2 exemplo, mas num tava querendo nem rotular, nem tão pouco colocar numa prateleira, vejo muito mais que isso.
    Vejo que o BREGA, e não o tecnobrega em especial (que pra mim é ferramenta de estudo como todos os outros ritmos) deve ser a grande influência desta década que começa este ano, e tentei deixar isso em outros comentários, e por isso classifico como “Pós-Brega”, num é um estilo é um momento histórico como nos anos 90 o Brasil se descobriu numa nova música pop apartir do samba, maracatú e forró.
    é isso! uma “era” não um estilo.

    bjs e obrigado pelo post.

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