Um bilhete pra Geraldo.

Olá Geraldo, tudo bem?

Não nos conhecemos pessoalmente ainda, meu nome é Melina Hickson, sou produtora de música há 15 anos em Recife. Sou empresária de um artista pernambucano que não sei se você conhece, o nome dele é Siba.  Também sou diretora de uma convenção internacional de música e tecnologia que está indo agora para a sexta edição, o Porto Musical.

Eu conhecia você de nome quando Eduardo assumiu o Governo. Várias pessoas chegaram para falar que você tinha o entendimento do assunto da economia criativa, tanto que ao assumir a secretaria de desenvolvimento econômico havia levado o tema pra ser desenvolvido pela pasta.

Geraldo então, agora que você será prefeito do Recife gostaria de te mandar esse primeiro bilhete para pedir que você olhe com atenção para a pasta de cultura, que não a use apenas como uma troca política e se tiver que ser assim, que escolha uma pessoa sensível, com visão além do óbvio, aberta, consciente, com noção do tamanho da produção que temos e da especialidade dela. Gostaria de propôr que o  orçamento anual da  cultura não seja esvaziado nos 4 dias de carnaval deixando o resto do ano sem dinheiro para consolidar projetos de sustentabilidade para o setor.

Sugiro que a secretaria tenha um planejamento anual para a cultura, buscando suportar e otimizar iniciativas que já existem da sociedade civil. Sugiro que a PCR envolva produtores, artistas e empreendedores da cidade nas discussões desse plano, de um jeito mais objetivo e menos político, olhando para o desenvolvimento de um mercado interno e olhando a difusão e a exportação como prioridades. Sendo assim, a Rádio Frei Caneca é uma urgência, pois já é lenda.

Estou aqui para contribuir no que for preciso, enquanto entender que de todas as metas, a principal é fazer existir executiva e inteligentemente a pasta da cultura.

Olhando para aquele imenso mar sem fim – Cabo Verde

Estive pela primeira vez na África. Uma África bem latina, eu diria. Fiquei uma semana em Cabo Verde a convite do Kriol Jazz Festival e do Ministério da Cultura de lá. A sensação de estar em casa foi muito grande. Fui para a Ilha de Praia, capital do País, que é formado por 10 ilhas. Praia tem o jeito do Brasil, a começar pelo nome, um Brasil mais árido com certeza, mas, as pessoas, as casinhas, é como andar nas ruas das cidadezinhas do interior pernambucano.

Olhando para aquele imenso mar sem fim, almoçando com mais outros profissionais de música do mundo que também estavam comigo, ouvi a frase que fez todo sentido para justificar minha sensação de familiaridade com um lugar que nunca fui. O Ministro da Cultura, o senhor Mário Lucio, grande músico e compositor local, disse: ” olha pra frente Melina ” e quando olhei pro oceano , ele continuou: ” Fortaleza tá exatamente aqui em frente, há 3 horas de distância voando”. Eu estava perto demais do Brasil, mais do que imaginava, depois de passar quase 8 horas num vôo pra Lisboa, mais 10 horas em conexão para mais 5 horas de vôo para Praia, tudo pareceu tão longe, que perdi a noção geográfica. Eu estava mais perto do Brasil do que imaginava, mas, podia sentir.

Foi dali, daquele pelourinho da cidade velha, onde eu almoçava, que saiu o primeiro navio com os negros africanos para serem vendidos no Brasil. Era dali que partia aquela dor com destino ao meu País. Foi o meu País que acolheu toda a dor e contribuiu indiretamente para aumentá-la. Tudo com a incrível destreza de quem colonizou os cabo verdianos e os brasileiros. Os portugueses estão infinitamente mais presentes lá do que cá, seja na comida, seja na forma do acento português falado. Mas, assim como o Brasil que praticamente inventou outra forma de falar português, os caboverdianos falam entre si a língua mais interessante que já ouvi, o criolo. Eles falam o criolo no dia a dia, mas, na hora de escrever, escrevem em português. Ao ouvir o criolo, me pareceu ainda mais com o interior de Pernambuco. E, imagino, outros interiores do Brasil, mas, é o daqui que não só entendo e conheço como já vivi nele, “pro mode que” (diria o caboverdiano falando em criolo, ou diria meu primo de Pau Santo) vivi minha infância no agreste mais remoto de Pernambuco. Realmente o criolo me lembra meus tios e primas, e avós do interior falando…

Os caboverdianos tem o Brasil em alta conta, altíssima. O Brasil tem um acordo de cooperação no âmbito da educação com Cabo Verde, e entre  10 caboverdianos que conheci, 8 estudaram no Brasil, Fortaleza, Rio de Janeiro, Campina Grande…Eles amam o Brasil. Mas, dá pra entender porque: somos mesmo muitos parecidos, desde o jeito, tão alegre, animado, guerreiro, auto-suficiente, orgulhosos de suas raízes, de sua língua, de sua história. O Cabo Verde é um país pobre, mas, são muito organizados e as coisas parecem funcionar bem e o que não está bem, está sendo estudado para melhorar. É triste perceber no País ainda as dores da imigração, o País  ainda precisa muito de doação de seus cidadãos que moram fora, principalmente nos Estados Unidos e Europa.

Mas voltando ao tanto que parece com o Brasil….

A música caboverdiana tem uma força, uma melodia enorme. A Morna, parece muito ao fado, mas, além dela,  existem tanto outros ritmos locais. Os músicos existem aos milhares, e não são fracos, são músicos acima da média, um virtuosismo de impressionar, principalmente tocando violão, violino, ou viola, qualquer instrumento de corda. A formação são de três pessoas muitas vezes, um canta e dois tocam, ou dois tocam ou três tocam. José da Silva, um dos mais importantes produtores de música do Cabo Verde, responsável pela descoberta e por toda a carreira de Cesária Évora, e produtor do Kriol Jazz Festival, completa minha pergunta intrigada: “vendo os grupos daqui você percebe que não se precisa de um grupo com mais de 4 pessoas,  se é bom, não precisa de mais” . Bom, depende. E Jô, como é conhecido por lá, sabe disso. Mas que eu fiquei lembrando das gigantescas bandas pernambucanas fiquei…

Só vi instrumentos de corda nos showcases do Fórum, então,  agoniada, perguntei o porquê e a resposta veio do Charles, outro caboverdiano que entende tudo da história e é capaz de explicar com a maior tranqüilidade em 4 idiomas a mesmo coisa: ” não existem tambores aqui, porque Portugal proibiu as pessoas de tocarem tambor, pois era uma forma dos negros de comunicarem sem usar as palavras. Foi por isso que Cabo Verde também desenvolveu a técnica de fazer música com seu próprio corpo, batucando com as duas palmas da mão no centro do peito” . Bom, entre os dias de viagem entre Cabo Verde e o Brasil, num navio cheio de dor, essa proibição ficou para trás, a chegada no Brasil possibilitou o tambor voltar pras mãos dos seus tocadores e a nossa música brasileira é cheia de amor disso e por isso. A colonização portuguesa nos dois países pode ter sido diferente, mas, uma coisa nunca mudou: a música, seja tocada pelo tambor, ou no peito e na raça, ela sempre foi uma das melhores formas de se comunicar …

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Quero agradecer a algumas pessoas por esta viagem:

Mário Lucio Sousa, Ministro da Cultura do Cabo Verde , por achar que eu posso contribuir em alguma coisa para seu projeto de música para o seu País, e também pelo carinho, explicações e ótimos almoços.

José da Silva, pelos ensinamentos  que ele me passou, mesmo sem saber…Jô, quando crescer quero ser igual a você.

Ana, Nadia, Cristiane, Charles e Débora pela atenção e carinho

E a delegação que esteve comigo nessa : Christoph Borkowsky, Christine Semba, Erica Smith, Maarteen, Rafael Barcot Tintor, Dominique, Corinne, Brahim El Mazned… Espero encontrá-los de novo lá, ano que vem, mas, desta vez vou pegar o vôo Fortaleza-Praia, a bordo da TACV .

Para Pel, com carinho…

Em 2008 eu estava fazendo pelo segundo ano a produção da MIMO e veio trabalhar com a equipe uma produtora indicada por alguém. Trabalhamos juntas indiretamente, pois eu fazia a coordenação geral e ela assumiu a produção de uma das igrejas. Depois disso e um tempo depois eu precisei de uma assistente e alguém me lembrou dela, liguei e desde então, com uma paradinha no meio para uma super temporada de vida em Londres, Pérola Braz virou minha grande companheira na Fina.

Quando saí da Astronave, depois de 13 anos de sociedade e abri a Fina, me senti um tanto só, pois as decisões e metas tinham que ser tomadas por mim sem troca de idéias com ninguém. Desde que fiz este movimento, algumas produtoras passaram por aqui, mas, apenas uma realmente veio e foi ficando e está ficando até que isso tudo seja legal para nós duas e por enquanto está sendo no mínimo uma grande aventura, parceria, companheirismo, troca de experiências, de idéias…sempre, cada uma na sua, não viramos as melhores amigas, não vivemos uma na casa da outra, raramente farramos juntas, não vamos ao cinema juntas. Mas, temos uma liga que não precisa ser verbalizada, que não precisa ser demonstrada, simplesmente sentimos.

Pérola virou Pel, Melina virou Mel e juntas a gente tem seguido um projeto atrás do outro, um dia atrás do outro, completando onde outra falta, juntando as vontades de produzir de um jeito diferente, mais ameno, mais tranquilo, sem agonia, apesar da agonia de tantos momentos. Aprendemos juntas o jeito da outra e acabamos curtindo as diferenças. Não lembro nesses anos todos de ir pra casa um dia sequer achando nada que me desagrade nela. E agradeço sempre pelo dia que ela veio pra cá pra se somar.

Pel, queria fazer esta declaração de amor pra tu no teu aniversário e deixar registrado aqui no nosso blog que é uma delícia te encontrar todo dia aqui no escri pra seguir em frente. Obrigada por todo carinho, atenção, dedicação, companheirismo e todo o resto.

Um beijo, Mel.

O açude sangrou e o carnaval chegou!

Vôo São Paulo – Recife, dia 11 de fevereiro de 2012.

Estou voltando para Recife depois de dois shows de estréia do disco Avante, de Siba em São Paulo. Depois de quase 2 anos de trabalho, lançamos oficialmente o disco ao público. Apesar de todo planejamento, com o lançamento para a imprensa marcado para o dia 9 de janeiro de 2012, o disco inteiro vazou na internet no dia 01 de janeiro. Como estávamos prontos para lançar, a única coisa que tivemos que fazer foi adiantar tudo, mas, como estava tão pronto, conseguimos agir rápido e muitos acharam que a gente tinha soltado o disco na internet propositadamente. Sendo do jeito que tenha sido, o que importa é que o vazamento acabou trazendo ótimos resultados pra gente.

Na noite do reveillon, o último e-mail que vi, na primeira madrugada de 2012, vinha de Siba e o titulo era : “o açude sangrou”, antes de abrir sabia que o disco tinha vazado, captei a metáfora de cara e nada me restava a não ser ir dormir, depois de ver o disco inteiro pra download em alta qualidade no blog que Siba havia visto. Na manhã do dia 01, uma dezena de blogs já tinham disponibilizado o disco, no fim do dia, mais dezenas, e assim por diante, facebook, twitter, todos comemorando o download e a oportunidade de ouvir o tão anunciado disco. Assistimos a isso, curtindo,  participando e vendo como aproveitar tudo.

De lá pra cá, é uma repercussão linda, uma comoção em algumas situações. A imprensa tradicional abraçou o trabalho com muito entusiasmo e, mais do que isso, com muito entendimento da coisa toda. Os blogs então! As melhores resenhas.

Pois bem, agora a imprensa já conhece, há quase dois meses o público que curte Siba também, a turma de Recife e de São Paulo já pôde assistir ao show e aqui se encerra o lançamento oficial, apesar de continuarmos em fase de lançamento.

Esta semana é a pré-carnavalesca, temos 4 shows agendados no carnaval. Dois deles em duas cidades do interior de Pernambuco. Numa delas, o Prefeito quis saber se este show de Siba é show de carnaval, que se não fosse ele não queria. Respondi dizendo que este é o show do disco novo de Siba. Esta cidade investe em cachês de bandas dos mais variados tipos, axé, pagode, passando por brega, e outros tipos de som durante o carnaval, então foi intrigante eu ter que responder esta pergunta…fiquei pensando se ele perguntou o mesmo pras outras bandas, anyway, respirar fundo e responder dizendo que o disco está disponível para download no site de Siba e que ele poderia ouvir e concluir se é ou não um show de carnaval…não serei eu a dizer a ele qualquer coisa…e se ele resolver que não quer, tudo bem, vou fazer o quê? Apenas continuar intrigada….

O que nos espera nestes 4 shows de carnaval? Um público que acompanha Siba e que sabe o que vai encontrar? Ontem no show de São Paulo, todos se levantaram e dançaram uma boa parte do show…outros preferiram curtir a poesia sentados, percebendo os arranjos mais sensíveis, que podem ser mostrados em harmonia dentro de um teatro de acústica ótima e com um equipamento de som na medida. Mas no carnaval? Vamos ver o que o Prefeito acha do show, mas, o mais legal vai ser ver o que o povo acha do show, pois para nós – se as pessoas estão dançando, paradas, olhando, bebendo, caretas ou não – o que importa é o que elas sentem daquilo e não como elas se manifestam…

Feliz carnaval pra todos!

Avante. por mim.

Siba, sabe o que percebi? Que AVANTE é um passeio por sua vida desde muitos tempos atrás. Dizer que este é um disco totalmente novo e inusitado é deixar de lado uma enorme história, que vem desde os Ambrósios, passando pela Fuloresta, até hoje. Este é um disco ousado sim, o show é mais ainda. Depois de 8 anos tranqüilo, livre, solto, você voltou a se desafiar, assim quando refez o caminho São Paulo – Nazaré da Mata, para formar a Fuloresta. Agora, resolveu pegar a guitarra e fazer um disco tão pessoal, passando o show, ensimesmado, cantando letras infinitas, e tocando um instrumento sem fim nas sua mãos. Guitarra que você sempre tocou mesmo antes do Mestre Ambrósio e muita gente nem lembrava.

AVANTE sempre foi o nome desse projeto. Sim, porque não conheço ninguém mais capaz de desafiar a si mesmo, a sua coragem é este disco.

Pra mim, foi incrível descobrir que ARIANA é uma música sobre o Afeganistão, uma declaração de amor para um mundo tão longe, quando pensei que era uma declaração de amor para alguém. Mais lindo ainda foi saber que uma das músicas que mais me encantam no disco você já tinha há tantos anos e nunca gravou, mesmo Biu Roque dizendo para você gravar aquela ciranda tão linda. BRISA, ciranda ou não, por fim, está gravada.

Fico pensando como se chegou nesse formato inusitado de banda… uma tuba, em vez de um baixo? Ah sim, lembro! Fizemos testes com alguns baxistas, eram ótimos, mas, na veia corre o sangue do sopro, dos metais, e tínhamos recebido um presente meses antes, Léo havia entrado na Fuloresta e tocava super bem, porque não substituir o grave do baixo pela tuba?

O vibrafone foi idéia do Catatau? O Antônio foi idéia do Benjamim? Acho que os dois juntos formam a composição certa. O mineirinho tocava vibrafone e teclado como ninguém, conversava e tinha muita vontade…agora ele está maestrando com você o processo, o show, a nova vida, daqui pra frente.

A bateria foi mais difícil, era pra ser desde sempre junto com a guitarra, principalmente porque a idéia era não ter percussão…aí, pro disco,  veio o Samuca que fez bonito mas foi embora do País. Pros shows então, a gente encontrou Serginho que trouxe um peso e uma agilidade bem pessoais para a bateria.

E suas guitarras? É sério que a gente vai ter que viajar com três? Eu tava tão tranqüila com o formato da Fuloresta…tão simples…nem passagem de som precisávamos fazer mais. Tudo bem, quando você resolveu se desafiar nesse projeto eu deveria saber que seria a próxima a ser desafiada…tava tudo tranqüilo demais.

AVANTE traz uma exposição absoluta do seu processo de criação, como compositor e como músico. Lembro quando você estava no início desse processo, Caio e Pablo chegaram dizendo que queriam acompanhar tudo, achamos aquilo interessante, mas, não sabíamos o quanto toda aquela perseguição seria importante. Caio e Pablo foram muito mais do que testemunhas de um processo de criação, eles foram, através de seus olhares, os responsáveis por registrar cada momento desse disco, cada momento seu, cada estrada por onde você caminhou e isso tudo findou nos Balés da Tormenta.

Avante é muito mais que um disco, é um repertório de vida, é um recorte de alguns anos dela, mesmo as coisas que você quer esquecer. PREPARANDO O SALTO é a prova do processo, é a prova do período. BRISA, apesar de já existir, caiu perfeitamente no momento que você vivia. ARIANA traduz sua fúria pelos livros e sua admiração pela guerrilha , pelas tradições e pela coragem dos povos. BEIRA-MAR mostra que a ciranda pode ter várias faces, muito além da percussão, do sopro, da roda.

A BAGACEIRA e CANOA FURADA tem o pé no carnaval e num momento de sua vida.Como pode alguém rir tanto de sua própria tragédia? MUTE vem pra dizer que muitas vezes é melhor ficar calado,  mudo e esperar o tempo passar. A idéia de UM VERSO PRESO era ser uma vinheta, lembra? Mas, pode uma música ser uma vinheta, uma vez tocada por você e cantada por Lirinha? Não creio.

Então, a música AVANTE. A arte de cantar, com todas as suas peripécias, perspectivas, possibilidades, arrebatamento, ironia, ambição e veneno.  Ouvir esta letra é perceber o tamanho do que achamos ser tão simples, cantar. AVANTE é a música que mais me intriga no disco, e, claro, a que você escolheu para começar o show. Eu podia pensar que seria pesada demais pra começar um show, mas, quando a vi pela primeira vez em ação, além de ter ficado tensa, como todos os outros da audiência, pensei: é ela mesma, tá certo! É um tapa na cara. Depois dela – e do suspiro do público – o que vem depois, é o descobrimento de um novo mundo, todo pronto, todo seu, entregue pra quem quiser conhecer.

QASIDA mostra esse mundo profundamente. Um mundo que começou distante, no agreste de Pernambuco e que, há muito, mesmo não sendo mais, por você, habitável, serve como ponto principal de sua inspiração como cantor e compositor, com a poesia rimada sendo a base principal de suas letras.

Mas, certo mesmo, nesse mundo todo que você recriou para viver, morar, tocar e cantar, o seu filho Vicente, cheio de BRAVURA E BRILHO, é a prova de que independente de quantos saltos você der, de quantas brisas tomar, de quantas canoas furarem, de quantos versos presos, é por ele principal e especialmente que você irá AVANTE.

I hear and I forget. I see and I remember. I do and I understand.

De um despretencioso cafezinho sobre a cultura pernambucana, o maracatu e Nazaré da Mata, a um dos maiores desafios da Fina. A idéia era só conhecer Siba, mas, o Tropenmuseum acabou conhecendo a Fina Produção como um todo.

Depois de receber o perfil do profissional que eles procuravam, li aquelas páginas algumas vezes. Na primeira, achei que tinha na minha frente um tratado sobre o que é ser um produtor do mais alto nível. Na segunda vez, já achei que não poderia dar conta, mas, na terceira vez tava lendo em conjunto com minhas parceirinhas na Fina, Pérola e Isa, e os olhos de ambas brilharam e veio então a decisão: porque não?

A Fina está, desde então, fazendo a produção da exposição Mix Max Brazil e é a representante local do Tropenmuseum Jr. para todos os assuntos do projeto.

Este museu fica em Amsterdam, é especializado em crianças entre 6 e 13 anos e depois de ter realizado algumas exposições sobre China, Mumbai, Ghana, Bolívia, Austrália, entre outros, resolveram dedicar 4 anos de suas vidas ao Brasil. Sim, 4 anos, um e pouco de produção e pesquisa e dois e meio de exposição. A Mix Max Brazil ficará em cartaz entre 2012 e 2015. Neste período, cada criança que entrar no museu entrará num pedaço do Brasil, a forma como o espaço inteiro é vestido é impressionante e o mais bacana do conceito é que, apesar de ser num museu, nada é estático, nada é parado. As crianças fazem uma imersão no ambiente brasileiro, com foco em Pernambuco. De cozinhar tapioca a dançar, tecer, fazer xilogravuras, tudo elas devem experimentar para que seja algo memorável. O slogan do Museu é: “I hear and I forget. I see and I remember. I do and I understand”.

A Mix Max Brasil traz a sensível e hábil curadoria de Liesbet Ruben, holandesa fascinante que consegue ver o brilho de todas as coisas, mesmo que no escuro. A curadoria dela tem trazido para a Fina diariamente um novo aprendizado, é extremamente sagaz e tudo que é pensado não tem nem de longe cara de universo infantil, o que nos deixa ainda mais intrigadas. Mas, como mãe que sou, sei perfeitamente que quando quero impulsionar meu filho para outro ambiente, e buscar nele um interesse e perspicácia, sei que não é mostrando mickeys ou bakugans, e sim algo muito mais subjetivo, mais subliminar, definitivamente as impressões dele são sempre muito mais surpreendentes do que quando ele opera na atmosfera do óbvio.

As crianças holandesas terão a oportunidade de ver um Brasil e um Pernambuco que as daqui não têm. Sob o olhar aguçado de uma curadoria e de uma cenografia – Aby Cohen- bem distintas, inusuais, mas, extremamente lúcidas. Para a Fina, resta acompanhar esse processo como quem acompanha aula de doutorado e produzir tudo, tudo mesmo que sai da cabeça da dupla. Colocar os ítens num container gigante, em navio rumo ao porto de Roterdam e, claro, vez e outra, pois não somos blasés, sugerir novas idéias, novas imagens, novas texturas, contribuindo com elas.
Estamos todas curtindo esse desafio.

Exposição sobre a China no Tropenmuseum Jr.

Ariana. Um comentário. Para Patrick, com carinho.

Sempre quis entender a mania dos jornalistas, da mídia, de rotular, de segmentar, de dar título, de compartimentar a música. Nos primeiros instantes da criação, a próxima pergunta pode ser: o que estou criando? Que tipo de nome, de gênero que eu dou a isso?

Preocupando-se ou não com isso, o artista ou produtor ou ambos, sabem que terão que passar os próximos 3 anos de suas vidas respondendo a esta mesma pergunta, que ritmo? Que conceito? Que tipo de música está sendo feita?

Ao enquadrar sua criação, o artista é obrigado a deixar de lado tanta coisa a mais, tanta referência, tanta inspiração. Ao enquadrar, o resultado é um recorte miúdo de um ambiente infinitamente superior, mais complexo.

Sinto-me à vontade para falar sobre isso, desde que comecei há vários anos a acompanhar de perto a carreira de Siba. Acompanhar atentamente os processos dele como compositor, arranjador, instrumentista , percebendo a grandeza de tudo, as diferentes vias de acesso à criação, as múltiplas formas de inspiração para compor, o imenso caminho até o término de uma canção. Ao perceber tudo isso, me parece um desperdício ou, às vezes, uma precipitação, nos forçar a dizer, em uma ou duas palavras, o que danado é isso tudo.

Isso vem a maioria das vezes da mídia tradicional, toda rápida, toda urgente, toda imediata, condensada no tamanho do texto que a ausência do anúncio comercial permitiu ou na dependência da hora do início da novela. Sinto até um certo sentimento de pesar pelos colegas jornalistas que gostariam de ir mais além e não podem. Mas, quando isso parte de um ambiente mais livre, mais independente, aí fico achando que é uma mania mesmo.

Fui movida a escrever este post, depois de ler no facebook, uma sentença interessante. Depois que postamos um teaser de 4 minutos de uma música do novo disco de Siba, Ariana, li um comentário que dizia que o disco fazia parte de uma era pós – brega. Li aquilo que foi escrito por Patrick Tor4, meu querido amigo, uma pessoa que adoro muito, li e passei direto. Mas, depois, provocada, li de novo, e aí fiquei pensando. Patrick escreveu o que ele sentiu ao ver o teaser, ele fez uma análise pessoal sobre o que sentiu na música e, por ser um cara muito ligado ao ambiente do tecnobrega, enquadrou então o novo disco de Siba numa era criada por ele, fofa inclusive, chamada de pós-brega, onde outros artistas também estariam, Lirinha, Cidadão Instigado, entre outros.

Na verdade, não tenho nada contra o que Patrick escreveu e nem acho ruim ele ter sentido isso da música. Mas, isso me fez pensar sobre essa necessidade do rótulo, de criar compartimentos, de segmentar, de reduzir algo que, na minha opinião, está tão além.

A intrigante urgência para se definir algo que nem foi lançado ainda, que nem foi ouvido ainda. Patrick viu apenas um teaser de uma música, não tem nem ela completa, não é um clipe. De um disco inteiro, ele teve acesso a apenas uma canção e o disco entrou na lista de uma nova era. Para o meu queridão Patrick que me provocou sem saber, e para todos os outros que tem interesse em conhecer o disco Avante, de Siba, eu diria que tentar enquadrá-lo em qualquer ritmo, movimento, mundo, segmento, vai dar um trabalho do cão. Mas, se alguém chegar a alguma conclusão, por favor, nos diga, quem sabe não nos ajuda a responder à mesma pergunta pelos próximos 3 anos de nossas vidas.

Assista ao Teaser Ariana:

SIBA – Ariana from DobleChapa on Vimeo.

A importância de Circular

É fato que as redes sociais e todas as ferramentas disponíveis hoje ( Soundcloud, Bandcamp, o decadente Myspace, o ágil Facebook o mega ágil Twitter e tantas outras) são parceiros indispensáveis das bandas, produtores, artistas. Mas, circular é fundamental.

Ficar sentado horas por dia na frente do computador dando um gás em sua rede é básico, circular é imprescindível. É circulando pela comunidade, pela cidade, pelo estado, pelo país e pelo mundo que os grupos e produtores vão adquirir estrada, experiência, conhecimento, ampliar seu network pessoal e, principalmente, ampliar sua visão de mundo.

Ouvir e ver outros grupos, outras iniciativas, outros formatos, outras gerências, tudo isso pode ser uma grande ferramenta para desenvolvimento de suas carreiras ou de suas empresas.

E, se não conseguir tocar com seu grupo, com a banda que você produz, vá assitir, vá participar das palestras, vá ver os shows, leva o disquinho, leva o cartãozinho, tenta marcar uma reunião rápida – nunca passe dos 10 minutos com um promotor, e olhe lá.

Participar de eventos de músicas que não são feitos só de shows é melhor ainda. As convenções podem ser grandes aliadas, nelas, você pode encontrar os festivais mais interessantes, os melhores centros de música, andando na sua frente, comendo do seu lado ou dançando perto de você…os programadores e diretores realmente participam desses eventos em busca de nomes pros seus projetos…Vale a pena investir e ir. Eu, nunca me arrependi.

Vão aqui algumas dicas:

www.circulart.org

www.womex.com

sxsw.com

latinalternative.com

www.feiradamusica.com.br

www.mercadocultural.org

Praça, feitiço, árvore, Argentina ou Caia na estrada e perigas ver ou A aranha arranha a jarra

por Pérola Braz
Fina Produção

6 roteiros, 19 dias, 71 atrações, 88 cidades, 200 profissionais, 270 artistas. Os números dão uma idéia da dimensão do Circuito Sesc de Artes, iniciativa do Sesc SP em parceria com as prefeituras locais do interior, litoral e Grande São Paulo que moveu trabalhos artísticos para todos. A praça como ponto de encontro e de trocas simbólicas é o eixo de uma programação que intervém no espaço público a partir de diferentes linguagens. Música, teatro, circo, dança, artes visuais, literatura, artemídia, arte-educação e perfomances coexistiram em cada roteiro programado neste junho.

Eu, de Pernambuco, parti com Siba e a Fuloresta, um grupo esquisito, um bando de velhotes tocando e um cantor magro que nem palito, com um som, digamos, diferente. Parte do roteiro 1, itineramos por 16 cidades, suspendendo o cotidiano dos passantes, desavisados ou programados pelo projeto. Junto conosco, trabalhos especiais do Grupo Circo Branco (SP/PE), Quik Cia de Dança (MG), Circo Davinci (ARG), Caixa de Imagens (SP), Cia Patética (SP), além do Jogo do Acervo Sesc, o Symbiosis (PA), É Crédito ou Débito (BR) e a vídeo repórter Angélica Muniz (SP).  Diferentes expressões que se encontram, conversam e criam unidade, convivência que se torna uma das cortesias desta ação.

Apresentar o trabalho em praça pública, para a vida espontânea local, dia após dia, é uma oportunidade especial, onde a comunicação do artista se dá de forma completa, junto ao ambiente, sua história, cultura e população.  O Circuito SESC de Artes forma público pegando as pessoas pelo braço e brindando-as com programação e serviço de qualidade. Um presente para todos. Com produção e estrutura mais que decentes, a estrada nos fez carinho. Também comprovamos, o Brasil tem inverno. É geladinho.

Dentre os objetivos do circuito, como ponto de partida, está a consideração da experiência artística e a quebra da rotina no cotidiano das cidades, estabelecendo provocações e diálogos, propiciando novas possibilidades. Além desses aspectos, pretende deixar rastros, nesse cenário urbano, com a passagem do projeto. A arte é apresentada no projeto de forma singular, a fim de proporcionar a construção de uma verdadeira educação que passa também pelos sentidos.

Sentimos.

Vida longa ao Circuito SESC de Artes, às praças, ao feitiço, às árvores e também à Argentina.

*Para conhecer o projeto e os artistas participantes acesse: www.sescsp.org.br/circuito
*A produtora que vos fala segue por Recife e por todo lugar.  Ainda não fugiu com o circo.

Rosa de Sangue, hoje uma homenagem a Lula Côrtes, sempre, uma homenagem a Seu Zé Rozemblit…

Fiz este documentário como conclusão de curso de jornalismo. Rosa de Sangue narra a história da primeira gravadora totalmente independente da América Latina, a Rozemblit. Sabe conde ela ficava? Na Estrada dos Remédios, aqui em Recife. O artista chegava com sua partitura ou composição embaixo do braço, entrava lá, gravava, criava e produzia a capa, prensava seu disco e saia de lá com ele embaixo do braço.

A Rozemblit e seus subselos foram responsáveis pelos lançamentos dos maiores clássicos do Frevo, nas vozes de Capiba, Nelson Ferreira, através de seu selo Mocambo. Através do selo Solar, capitaneado pelo querido e saudoso Lula Côrtes e Kátia Mesel, a Rozemblit lançou a geração udigrudi da década de 70, como Paêbiru,  Marconi Notaro no Subreino dos Metazoários, Flaviola e o Bando do Sol, Lula Côrtes e seu belíssimo disco, Satwa, trilha sonora básica de Rosa de Sangue e tantos outros.

Essas e outras histórias de glórias e tristezas são narradas nesse pequeno e humilde documentário.

Agradeço sempre a oportunidade única de ter feito as entrevistas diretamente com mente visionária por trás da Rozemblit, o Seu Zé Rozemblit, que não atendia jornalista nenhum,  nem ninguém para falar sobre sua história, mas, me atendeu em sessões terapêuticas que duraram semanas e viraram este documentário aqui. Vale a pena conhecer esse pedaço da história da música brasileira.

Parte 1:

[tube]http://www.youtube.com/watch?v=CtLAiQ72C_k[/tube]

Parte 2:

[tube]http://www.youtube.com/watch?v=tru2QUiePi8[/tube]