Um olhar para a exportação da música brasileira.

O governo de Lula, através dos seus ministros Gilberto Gil e Juca Ferreira, conseguiu transformar o MINC num ministério de verdade, com ações, atitudes e atividade. Tenho a impressão que o MINC não existia enquanto instituição antes disso. Agora, A nova ministra Ana de Holanda tem que manter as conquistas reconhecidas e dar sua marca pessoal ao MINC, claro.

Mas, agora é hora de ver o que ficou faltando  e colocar um olhar cuidadoso sobre ações que ainda não conseguiram ser vistas com calma e atenção.

Falando sobre música, um dos aspectos que de cara eu destacaria, seria a exportação da música brasileira. Hoje, esta ação esta concentrada na APEX – Agência Brasileira de Exportação, que cuida da exportação da cachaça, do sapato, do café e, da música do Brasil 🙂 – através de um convênio com a instituição BM&A- Brazilian Music and Arts, que vem há alguns anos, na medida que pode e dentro do seu entendimento desse mercado, criando ações de visibilidade da música brasileira em convenções e feiras de música espalhadas pelo mundo.

Nos primeiros anos dessas ações, em meados de 2003, 2004, não soava bacana, pelo menos pra mim. Quando via essas ações e a música que estava compreendida por elas, não me sentia representada, não sentia que a música que eu trabalho, estava ali, presente. Era outra coisa. Nos últimos anos e, particularmente, após a entrada do diretor David McLoughlin, as coisas começaram a ficar mais interessantes. David tem buscado outros parceiros, tem buscado conhecer outras iniciativas e a interagir com elas. A coisa melhorou muito e hoje, quando vejo, mesmo que de fora, já tem gente bacana participando.

Mas, na minha compreensão, definitivamente isso nao é suficiente. O MINC tem que tomar pelos braços essa representatividade brasileira lá fora. Precisa desenvolver programas e não apenas ações isoladas. Os programas são fundamentais, como por exemplo, o de intercâmbio que ja existe, e que viabiliza passagens aéreas pros grupos. Esse programa é fundamental, talvez, o mais importante de todos. Hoje, é difícil concorrer por ele nos parâmetros que estão disponíveis. Uma turnê se desenrola por muitos meses de trabalho, não temos com tanta antecedência todos os lugares que iremos passar e por isso perdemos a chance de participar. Tem que se encontrar uma forma mais viável. No fim,  as melhores turnês não são apoiadas por este instrumento, que acaba sendo subutilizado.

As iniciativas individuais de produtores, agentes e artistas estão com cases de sucesso para mostrar ao MINC por onde começar. Seria inteligente conversar com esses agentes e ver o que implementar. O momento é bom pra isso. O Porto Musical 2011 esta com seu maior foco nesses temas. Vai trazer pra Recife duas das principais instituições de música do mundo, o Lincoln Center de Nova York e o Barbican Center, de Londres. Seus programadores farão conferências sobre como entrar nesses mercados, além de outros profissionais da Holanda, Colômbia, Japão, França, que vão falar sobre esses mercados.

Sem dúvida vai ser um encontro dos mais produtivos e ricos de todos as edições do Porto Musical, se eu fosse a Ministra Ana de Holanda não perderia essa oportunidade.

‘Só depois que atingir toda a massa’

Onde o músico quer chegar? Talvez, a resposta mais sensata seria: na trilha da novela das oito. E assim vivo na contradição: como eu, que não vejo novela nem acompanho BBB torço para que meus artistas toquem no horário nobre? Qual o limite para se chegar à ascensão sem perder a alma? Quanto e como pagar para tocar na rádio? Como fazer a música chegar à massa sem que vire mais um rótulo da cultura de massa? Ou, simplesmente, como ser respeitado pelo trabalho independente?

São perguntas que me encasquetam o juízo. Mais ainda depois desta semana em que, pela segunda vez, a Orquestra Contemporânea de Olinda tocou antes de Pitty num festival. No intervalo das músicas da Orquestra, fãs frenéticos da baiana gritavam: ‘Pitty! Pitty! Pitty!’.
A resposta foi música: ‘Toda Massa’, letra de Tiné que fala exatamente dos fenômenos musicais que entram em nossas casas pela TV e pelas rádios.
Creio que poucos daqueles jovens entenderam o recado.

O importante é que foi dado. Mesmo que o som do nosso show tenha sido 8 vezes inferior ao de Pitty; que em nosso camarim tivesse faltado o suco de frutas e a cerveja gelada; ou que nossa câmera tivesse sido tirada do melhor local porque o técnico de Pitty queria afinar os instrumentos bem ali. Chegou na TV Globo, tapete vermelho. Cabe ao artista e equipe enrolar o tapete e pisar firme e descalço.
“Eu não vim de terra alheia. Trago uma estrela no peito. Como o sol ela alumeia” (Bongar)

Voo 6312 Recife – Petrolina

Há dias venho sofrendo uma cobrança (positiva) de deixar algumas linhas no blog da Fina. Aproveito o gancho (ou seria a falta de tempo?) de Melina, que otimiza os vôos de sua vida (e que são muitos!) para rabiscar ideias. No meu caso, o trajeto é curto. Mas aqui, a num sei quantos metros de altura do chão, intuo que as conversas que rendem postagens  são muitas. Por isso decidi, agora, com a ajuda da pressurização, que tenho realmente que visitar este espaço com mais freqüência.

Sim, não ando, ou melhor, não vôo tanto. Mas trabalho pacas, em terra firme. E percebo que colaborar com este blog significa deixar marcados os passos da nossa história. É só ver o último post da minha ‘vizinha’ de baixo (Melina!). Creio que aqui vão surgir registros importantes sobre a produção e articulações da cadeia da música em PE.

Neste momento, nestas poltronas ‘confortáveis’ da Avianca, como pão com carne moída e suco de laranja com gosto de Redoxon. Mas o que interessa mesmo é que quero chegar logo e tomar banho nas águas doces de Petrolina (momento delírio).

Desculpem desconsolar, mas assessora de comunicação, ao contrário dos que muitos pensam, não tem tempo de molhar nem o dedinho do pé no São Francisco. Desembarco em 40 minutos com o grupo Bongar. Almoçamos e corremos para fazer entrevista em duas rádios. Depois me tranco no quarto de hotel para responder emails e preparar o material de divulgação da estada do Bongar em Petrolina. Amanhã acumulo tarefas com a Orquestra Contemporânea de Olinda.

Os dois grupos, com quem trabalho há mais de um ano, fazem show nesta quinta à beira-rio. Acompanho as bandas com quem trabalho sempre que posso e não tenho dúvidas do efeito e reverberação de notícias que a minha presença, in loco, causa em cada viagem dessas.
Vou embora, que tô ficando enjoada. Logo, vou escrever mais por estas páginas vituais. Mesmo antes dos voos Recife-São Paulo, Recife-Paris ou Recife-Washington que pretendo pegar em breve (ouviram, produtores? rsrsrsrs).

ps: só consegui postar o texto hj. O show é hj e não tomei banho de rio.

Tanta produção, pouca difusão…

Pernambuco é bastante reconhecido por sua cultura tão diversificada. E, mais ainda no que diz respeito a música, temos uma diversidade incrível de ritmos! Grupos ou artistas como Dj Dolores, Siba, Nação Zumbi, Spok Frevo Orquestra, Orquestra Contemporânea de Olinda, Eddie, Otto, Mundo livre S/A, Renata Rosa, Silvério Pessoa já são reconhecidos em todo Brasil e no exterior. No entanto, a grande maioria do público aqui no estado continua ignorando a existência dessa produção. Por que isso acontece? As bandas deixaram de circular ou de fazer seu trabalho? A resposta a estas perguntas é não! A grande questão é que o público não pode consumir aquilo que não conhece. E, eles não conhecem estas bandas porque elas não tocam nas rádios e nem estão nas TVs.

A difusão é, sem dúvida, o maior imbróglio da nossa produção musical. As rádios pernambucanas ou tocam todos os enlatados estrangeiros ou aqueles que podem pagar para tocar- e que, é claro, tem grandes chances de virar um sucesso de público!

Uma vez, uma pessoa da Fundarpe (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco) comentou comigo que os técnicos do Tribunal de Contas de Pernambuco sempre questionavam os cachês de artistas como os que foram citados acima.  Ele explicou que eram, quase sempre,  questionadas as planilhas de pagamentos de cachês nas somas de 10, 15, 20 mil para “aqueles nomes que nunca tinham ouvido falar”! Porém, não havia nenhum tipo de comentário com as planilhas de 150, 200 mil de cachês para os famosos ou, pelo menos, já conhecidos por tocar nas rádios e em novelas.  Os técnicos do Tribunal de Contas, assim como o grande público,  não conhecem essa “fina produção”, porque é uma música pouco ou quase nada tocada pelas rádios e TV´s abertas.  Então, como uma boa parte das pessoas não têm muito interesse em conhecer o novo e/ou “desbravar” a diversidade cultural daqui do estado, elas também não vão poder, nem ao menos, saber quem são esses grupos.

A chamada consagração para uma boa parte do grande público, acaba não acontecendo para alguns grupos e artistas talentosíssimos- que, em sua maioria, já possuem mais de 5, 10 anos de carreira,  outros com mais de 6 turnês internacionais, alguns já tocaram para presidentes de repúblicas, uma boa parte já ganhou os maiores prêmios de música do Brasil, outros já foram indicados para o maiores prêmios mundiais, como o Grammy. Enfim, todos são respeitadíssimos pela crítica especializada do Brasil e de fora, mas o grande  público não conhece e nem tem acesso por pura falta de difusão ou por uma, não tão pura assim, ausência absoluta de interesse por cultura.

E não me venha dizer que esses grupos ou artistas fazem uma música pouco acessível, pois existe música para todos os gostos, faixas etárias… para os sentimentais e intelectuais! De Brigitti, música da Orquestra Contemporânea de Olinda; a Canoa Furada, de Siba; Crua, de Otto; os frevos da Spok Frevo; os sambinhas do Mundo Livre…  Numa boa, pra todos os gostos tem uma música pronta pra ser descoberta, apreciada, cantada, dançada e, por fim,  reconhecida!

Epílogo:

A esperança fica nas mãos de iniciativas de valor e importância ímpar como:

Roger de Renor e toda sua trajetória, muitas vezes, como uma voz solitária, divulgando essas bandas e artistas em seus programas,  como a Sopa,  na Rádio Oi ou o programa Na Rural. Agora, ocupando uma pasta importante, trabalha árduamente para colocar a TV Pernambuco funcionando, entre outros meios de comunicação ligados ao Governo de Pernambuco.

A ARPUB -Associação das Rádios Públicas – vem fazendo um trabalho muito bacana de conscientização das rádios públicas na valorização de todo tipo de música produzida no Brasil.