Já faz mais de um mês que o Porto Musical acabou.
Estou diariamente no escritório, administrando cobranças dos fornecedores, digo, de todos os fornecedores do Porto Musical, pois nenhum, repito: nenhum deles recebeu por seu serviço no Porto Musical.
Após 40 dias que o evento acabou, continuo lutando diariamente para receber os patrocínios do Porto Musical, para que com eles eu possa pagar a todos que trabalharam no evento. Quando este dinheiro entrar, depois de algum ou muito tempo, o orçamento sofre uma variação enorme pelos juros dos fornecedores e pelo juros do banco.
Isso se tornou uma prática em nosso setor. Todos os patrocínios saem após o evento, e, a depender dos hormônios burocráticos de cada instituição isso pode durar meses, em algumas situações absurdas, anos.
Ficamos reféns da situação, não há nada que possa ser feito a não ser a cada dia, explicar e explicar a todos que trabalharam que esperem mais um pouco e a cada dia pedir e pedir que as instituições nos paguem.
Em reunião semana passada com uma banda, sobre uma turnê que estamos planejando, mais uma constatação triste. A banda operando no vermelho, os músicos e o produtor chateados porque não recebem seus cachês, shows que aconteceram há mais de 6 meses não saíram, a contabilidade do grupo vai pro espaço e pior que a contabilidade, o que vai pro espaço é a possibilidade de planejamento, item fundamental para se desenvolver a carreira de um grupo seja dentro do Brasil e, principalmente, fora dele.
Não dá para se planejar se os grupos não recebem seus cachês e os eventos não recebem seus patrocínios. Nada anda, os valores mudam, quem sái perdendo é o artista empreendedor, o produtor empreendedor, o setor sofre com essa informalidade sem fim, e não venha me dizer que os informais somos nós !
Ano após ano, sou questionada sobre o Porto Musical pelos meus sócios alemãs da WOMEX: ” Melina você quer continuar com isso mesmo com todas essas questões financeiras?” e eu digo: “Quero continuar, porque se não for assim, não se faz nada no Brasil”. Mas, é uma triste realidade, ver que as instituições passam a vida correndo atrás do rabo, como cachorro desnorteado, em vez de se planejar, de olhar para um ano, para 2 anos, para 4 anos (que seria o certo) e ter no papel tudo que planeja fazer. Neste aspecto, a iniciativa privada dá um banho, aí concluo que o que falta muitas vezes é a mão de um bom executivo em vez de um bom político.
Mas é claro que existem outras questões: uma boa parte desse entra e sái de gestores altera completamente o dinamismo dessas instituições, cada um com seu ritmo, com seu olhar, com seus objetivos, e personalidade. Em comum, todos eles só tem uma coisa: lidar com o passivo que o anterior deixou antes de sair. Outro erro imperdoável: tratar de uma pasta e de um orçamento público como se tivesse tratando de suas contas domésticas, pessoais, como se nunca mais fosse sair daquele cargo, tratar da pasta como se ela fosse para sempre e aí vem sempre a irresponsabilidade dos atos…ou o de empurrar com a barriga as besteiras que fez pro próximo ajeitar , ou o de adiantar demais as coisas como se o futuro não existisse, aí dana-se a realizar um monte de coisa sem planejamento nenhum de futuro. Uma tristeza só. E a gente que nunca nem entra nem sái, continua sempre aqui lidando com cada um desses como quem assiste sem acreditar uma novela ruim que nunca chega no seu fim.
Melina, ao começar ler teu artigo fui invadido por um sentimento de tristeza, no final, me restou a indignação e irritação com o “tratamento” dispensado pelos “burrocratas” no gerenciamento das questões públicas – portanto, a nós pertencente. Mais indignado e revoltado fico por se tratar da nossa cultura – desnecessário dizer: fonte impulsionadora e formadora dos “habitats” de qualquer tribo, nação, etnias ou povos; elemento fundamental de sustentabilidade do ser humano.
Mais, a você “vitimar”. Não te conheço Melina, mas endosso e referendo tua resposta/cidadã aos teus sócios alemães, e com ela me solidarizo. “Não podemos paralisarmos!” Atitude cidadã e de responsabilidade social a tua – estímulo e fomento para a preservação do nosso patrimônio maior: Nossa cultura.
Solidário.
Paulo Augusto Menezes.
Muito bom, Melina!
bjs